02/01/2020

BENJAMIM PEREIRA

Nos 53 anos de vida do GEFAC, foram muitos os pensadores e investigadores que procurámos para a reflexão em torno da cultura e da arte populares. A Benjamim Enes Pereira chegámos através do que escreveu, mas o traço de que retemos as mais significativas impressões é o da sua presença entre nós, gentil e disponível, acessível como só os sábios sabem ser. Benjamim Pereira esteve connosco nas IV e VII edições das Jornadas de Cultura Popular que tiveram lugar, respectivamente, em 1985 e 1991. Ali tomou a palavra, primeiro ao lado de Ernesto Veiga de Oliveira (de quem foi companheiro de caminhadas), depois junto a Louzã Henriques. A Benjamim Enes Pereira deve-se - juntamente com António Jorge Dias, Ernesto Veiga de Oliveira, Jorge Dias, Margot Dias e Fernando Galhano - a fundação do Museu de Etnologia, tendo sido o principal responsável pela revelação do precioso espólio ali reunido a todos os que se estivessem atentos ao trabalho daquela instituição. O seu trabalho de pesquisa etnográfica, volumoso e de grande qualidade, granjeou-lhe notoriedade junto da comunidade científica, em Portugal e no estrangeiro, que muito beneficiou da sua presença; mas também junto de estruturas museológicas de âmbito regional e local, com as quais colaborou até final da sua vida. Não há nenhum aspecto da cultura e da arte populares que não tenha merecido a atenção e a reflexão de Benjamim Enes Pereira. Aos como ele o GEFAC chama Mestres, pelo muito que acrescentaram à nossa compreensão dos sinais do nosso povo mas, sobretudo, pela disponibilidade para a entrega que é, afinal, a matéria das paixões. No documentário "Pelos Trilhos do Andarilho", realizado pelo GEFAC em 2012, prestou-se homenagem a Ernesto Veiga de Oliveira; mas sabíamos bem que a homenagem incluía Benjamim Pereira, tão evidente era a marca dos seus passos. “Povo que canta não pode morrer”, dizia o velho refrão. E não pode morrer quem, como Benjamim Enes Pereira, tão bem lhe quis.


Fotografias do Arquivo do GEFAC - 1985, durante as IV Jornadas de Cultura Popular
Exposição de Alfaias Agrícolas realizada em parceria com o Museu Nacional de Etnologia