A ARTE É, VAMOS ANDANDO PELA RUA...
O
silêncio e o vazio na relação entre arte e arquitectura, por Luisa Bebiano Correia
Na
segunda metade do século XX os artistas procuram a arte fora dos moldes
tradicionais e com a invasão da quarta dimensão (já prometida pelos
construtivistas) tentam libertar o mundo dos museus e livrarias. Theodor
Adorno defendeu, antes do movimento Fluxos
e dos Happenings, a libertação do conceito
de arte. Cage passou-a definitivamente para a rua, modificando a
relação entre objecto e pensamento.
Foi na procura do silêncio por John Cage
que o motor de arranque para a percepção do ser individual dentro de um
contexto artístico se iniciou. Depois da performance 4′33″ nada se manteve igual.
No
“silêncio” proposto por Cage, o público encontrou-se inesperadamente com ele
próprio. Do mesmo modo, na procura do “puro nada” com a câmara anecoica, percebeu-se que entrar “dentro” do silêncio, pelo
simples facto de respiramos, o silêncio era quebrado.
O silêncio não existe.
Depois do vazio criado, a nossa existência faz
com que ele não exista.
O sujeito desta consciência é a arte que se cria pela relação, como uma corrente eléctrica. Nós somos o objecto carregado de energia (que não se vê), o espaço é a ficha que está na parede. É no confronto com o espaço “vazio”, que nos ligamos à ficha da parede. E assim, magicamente, a arte aparece, sem ornamentos, apenas como cerne de uma consciência.
Nestes instantes, a imperceptível abertura da existência é oferecida à arte e cada um conjuga-se com os seus próprios impulsos, tornando-se peça fundamental da criação.
O sujeito desta consciência é a arte que se cria pela relação, como uma corrente eléctrica. Nós somos o objecto carregado de energia (que não se vê), o espaço é a ficha que está na parede. É no confronto com o espaço “vazio”, que nos ligamos à ficha da parede. E assim, magicamente, a arte aparece, sem ornamentos, apenas como cerne de uma consciência.
Nestes instantes, a imperceptível abertura da existência é oferecida à arte e cada um conjuga-se com os seus próprios impulsos, tornando-se peça fundamental da criação.
Na solitária (James Turrel, 1992) o som começa no nada e extingue-se no nada; Em Open Sky (James Turrel)
o espaço vazio é a ausência de matéria que provoca a essência da beleza: um recorte no tecto enquadra o céu como se de um vazio
infinito e inalcançável se tratasse.
É na dureza do ruído de todos os dias que percebemos que os espaços têm uma magia criativa que reside na sua imaterialidade.
A matéria é apreensível pelo corpo, pela sensação e pela emoção. Não é nada que se perpetue dentro ou como existência de uma alma. E é essa matéria apreensível, a que podemos chamar o início do estado de arte.
Assim,
arquitectura é arte quando carregada de emoção. Arte é a procura da realidade
sensível. A arte traduz-se quando existe uma relação entre a energia e o fio
condutor que a faz circular, transportando-a “para lá da imediatidade da
sensação dos objectos externos.”(*)
"(…) Toda a esfera da realidade interior e da realidade exterior empíricas deve-se chamar, num sentido mais forte do que o reservado à arte, o mundo de mera ilusão e amarga decepção, e não o mundo da realidade. A verdadeira realidade só se encontra para lá da imediatidade da sensação e dos objectos externos." (*)
* Hegel, citado por Herbert Marcuse em A
Dimensão Estética , Edições 70