14/10/2024

PESCADA Nº5

"O pé direito é o céu"

Fotografia de Teresa Valente

ERROS MEUS, MÁ FORTUNA, AMOR ARDENTE

Ninguém ama absolutamente tudo. Entre o terreno e o etéreo, há o intangível, onde o amor passa pelo erotismo e se transforma em algo que na verdade não existe. 

O amor é inatingível porque a sua sublimação existe na sua ausência, na sua impossibilidade.

Camões utilizou esta dicotomia, relacionando a paixão, a religião e a pátria. E na sua ideia de verdade, há a morte como confirmação. A morte pela crença, pela honra, por sacrifício, pelo amor. 

“Ninguém se torna um herói sem uma grande dose de mistificação.” 

Extravasando o nosso corpo físico e mortal, estes espelhos, são uma demonstração que a terra e o céu se unem. O físico e a etéreo, por uma fração de segundos, tocam-se. Até ao infinito.

O amor e a vida, o crente e o pagão, o herói e o comum, o mítico e o real, os deuses e os mortais, podem olhar o reflexo do impossível, quando “o pé direito é o céu”.


Luísa Bebiano e Nuno Maia 

Coimbra, 12 de outubro de 2024